Da Consciência individual e social à ação cidadã nasce “Da Terra à Mesa-um sal(to) que nos tempera”

O projeto “Da Terra à Mesa-um sal(to) que nos tempera” resulta do trabalho de um grupo informal de cidadãos/ãs de Aveiro, desenvolvido desde há alguns anos, e busca respostas a problemas associados à pobreza alimentar e nutricional abordados nesse âmbito, apelando à garantia do Direito Humano à Alimentação e Nutrição Adequadas, com especial atenção à população em situação de pobreza alimentar e nutricional.

A pandemia de Covid-19 colocou a pobreza alimentar e nutricional no centro das atenções das mesas portuguesas. O desemprego e a precariedade laboral enfatizaram problemas já existentes, levando ao aumento e à diversificação de pessoas em situação de vulnerabilidade social, limitando o seu acesso aos bens alimentares e, por conseguinte, à saúde e bem-estar físico e mental.
O projeto visa, através de um coletivo de parceiros , mobilizar sinergias para a prossecução de um conjunto de atividades, potenciando o empenho das entidades locais em proporcionar às comunidades mais vulneráveis da Freguesia de Esgueira e da União de Freguesias de Glória e Vera Cruz (Aveiro) uma alimentação de maior qualidade, diversidade e adaptada às suas necessidades. Os primeiros encontros com os parceiros reforçaram a premência e pertinência desta proposta.
Neste início do projeto, foi também realizada a primeira iniciativa dirigida à população – o diagnóstico das necessidades alimentares dos/as beneficiários/as de apoio alimentar e a realização de oficinas de capacitação para escolhas alimentares mais saudáveis e integradoras das suas necessidades e recursos. Neste âmbito, foi realizada, a 15 de dezembro e aproveitando a quadra festiva, a oficina O Natal dos Alimentos Embrulhados – combate ao desperdício alimentar com tempero, juntando 12 participantes do Bairro de Santiago e composta por dois momentos, onde não faltaram ideias inovadoras e nutritivas para uma alimentação festiva. O primeiro momento foi dedicado à partilha dos hábitos e preferências alimentares e de estratégias alternativas à oferta dos refeitórios sociais. O recurso a refeições pré-cozinhadas ou a preparação de omeletes constituíram dados interessantes de diagnóstico dos modos de vida das pessoas em situação de vulnerabilidade alimentar. O segundo momento proporcionou uma aprendizagem com “cheirinho” natalício: usando a cozinha de um refeitório social, aprendeu-se a fazer um caldo com espinhas de bacalhau, brócolos salteados com broa e chá com casca de cebola, demonstrando que tudo pode ser aproveitado na cozinha.
Para além deste tipo de atividade, o projeto visa a prossecução das seguintes realizações:
Diagnóstico das necessidades e recursos das organizações que realizam apoio alimentar, visando contribuir para a melhoria das suas condições de atuação e para garantia do direito à alimentação e nutrição adequadas das pessoas que apoiam.
Diagnóstico das necessidades e recursos dos pequenos agricultores locais. Tratando-se de um grupo central na construção de sistemas alimentares sustentáveis nos territórios, são também um grupo em risco de pobreza, sem capacidade de escoar os seus produtos a preços que lhes permitam obter um rendimento justo. Contribuir para a integração desta produção na alimentação da comunidade é um dos compromissos do projeto.
Estas duas propostas visam a aproximação entre organizações, enquanto consumidores colectivos, e produtores/as locais, para criar uma bolsa de produção e consumo que contribua para satisfazer as necessidades dos dois grupos, em prol da garantia do direito à alimentação e nutrição adequadas das pessoas em situação de vulnerabilidade alimentar. O enquadramento ecossistémico rural, marítimo e lagunar da Região de Aveiro está a levar o projeto também a produtores/as ligados ao mar e à Ria de Aveiro.
O projeto prevê ainda chegar à comunidade numa dupla e mais larga perspetiva:
partilha de práticas de alimentação saudável, nutricionalmente adequada e socioculturalmente inclusiva, e sistemas alimentares locais sustentáveis. Serão realizados encontros abertos à comunidade, com a participação de projetos oriundos de outras Regiões;
diagnóstico das necessidades e recursos percecionados pela comunidade na vivência dos espaços públicos. Nesta atividade serão vertidos os resultados das restantes atividades e pretende-se enunciar um conjunto de recomendações dirigidas aos órgãos de decisão regional e local, enquanto contributo para a criação de condições sociais e ambientais facilitadores da saúde e bem-estar individual e coletivo.